No livro "Inquietos por natureza" meu amigo e sócio Murilo Moreno tem um capítulo superinteressante: "Problemas, fuja das soluções óbvias."
Nossa vida anda tão acelerada e automática que acabamos fazendo coisas e que nem lembramos depois. Já pensaram no trajeto que você fez de carro hoje? Você lembra de todos os detalhes do caminho, o que tinha, quem passou, tava trânsito? Enfim, o ato de dirigir é automático e nem pensamos, simplesmente andamos no modo "salvar energia".
Quando colocam um problema pra você, a primeira reação é responder sem pensar usando a sua experiência de vida e a resposta acaba sendo a mais óbvia possível.
O livro fala em 3 passos importantes:
Passo 1: Desacelerar o pensamento;
Passo 2: Descartar as ideias óbvias;
Passo 3: Preparar a defesa das soluções disruptivas.
Não tinha pensado nisso antes, mas embora pareça óbvio, na maioria das vezes não seguimos esses 3 passos e acabamos ficando nas ideias mais comuns e, portanto, muito longe das ideias disruptivas.
Mesmo no pensamento "lean" onde perguntamos os 5 porquês, o objetivo na realidade é o mesmo, buscar as ideias que são diferentes, e quanto mais você pensa, mais ideias interessantes acabam surgindo.
A imagem da tartaruga é interessante, pois ser devagar não necessariamente é ser ruim, o importante é pensar profundamente e deixar as melhores ideias fluirem.
Novo comercial da Jeep (CLIQUE AQUI). "O que você acha?" Pergunta direta, resposta simples. Creio que um raio não cai no mesmo lugar duas vezes. E essa é mais uma campanha com a série The Last of Us. Não pode ser coincidência.
Semana passada, Nubank colocou no ar sua versão do mesmo tema. Um vídeo com o ator Antônio Fagundes, que é fã da série, se preparando pra viver um dos personagens. Tudo isso pra anunciar seu programa de Fidelidade, o Nubank+. Agora Jeep. Se você ainda não percebeu, 30 segundos já eram.
O bichinho do marketing que mora dentro de mim vive me repetindo que a propaganda mudou. Os formatos tradicionais ainda estão por ai, mas cada vez mais enfraquecidos. Uma grande parte do dinheiro dos anunciantes migrou para os influencers que, mesmo com pouca audiência, têm um poder de convencimento muito superior a muito comercial. Outra parte está migrando para os curtametragens das marcas, que trocam a veiculação paga pelo interesse do consumidor em compartilhar conteúdos.
Agora, parece que outra tendência está surgindo. São os veículos de comunicação propondo parcerias, não para ganhar dinheiro, mas para ganhar exposição. Os dois exemplos de The Last of Us criam expectativa para o lançamento da segunda temporada. Não é a série gerando reconhecimento de marca. É a marca gerando reconhecimento da série. Teoricamente, todos ganham.
No fundo, o que essa inversão nos mostra é que a propaganda tem se tornado menos uma interrupção e mais um entretenimento. Isso a gente já sabia, há muito se fala das empresas virarem conteúdo. Só que, com a proliferação de streamings e séries, furar o mar de novidades e chamar a atenção tem se tornado cada vez mais difícil. E aí que entra a criatividade.
Onde vai parar? Não sei. Só sei que toda fórmula, repetida à exaustão, para de funcionar. Então, pode apostar, vem mais novidade por aí. Pelo bem, ou pelo mal.
Se tem uma coisa que você pode ter certeza é que ninguém fica muito tempo sozinho ganhando dinheiro em qualquer mercado, sem que um concorrente apareça pra morder um pedacinho do sucesso. Parece que esse é o caso do Ifood, dono de 80% do serviço de entregas de comida aqui em Terra Brasilis.
A empresa é impressionante. Matou a Rappi e o Uber Eats. Tem mais de 100 milhões de entregas diárias e 55 milhões de clientes em todo o país. Ou seja, um em cada quatro brasileiros já se cadastrou no aplicativo. Fatura 8 bilhões de reais por mês em mais de mil e quinhentas cidades. Tudo nela é superlativo.
De olho nisso, a Meituan, versão chinesa de aplicativo de delivery, resolveu se instalar desse lado do Atlântico. Ela tem 200 milhões de clientes, que pedem 300 milhões de entregas por ano. Não ache que isso é muito. Pelo jeito, o chinês pede menos entrega que o brasileiro, pois as 100 milhões de deliveries diários do iFood representariam 36 bilhões de entregas anuais. Só que a Meituan é banco, transporte e agência de turismo virtual, tudo num lugar só. E, com isso, seu faturamento final bateu mais de U$ 46 bilhões em 2024. É muito mais do que os R$ 10 bilhões da empresa brasileira.
Com certeza, iFood está mais do que preparada para a chegada de qualquer concorrente. E, junto com a Meituan, deve voltar a 99food, que tem se aventurado em novos mercados, como o de transporte de mercadorias.
Como gosto de dizer, adoro essas aulas de marketing ao vivo. E num momento em que as tarifas do moço de cabelo de fogo tem deixado os mercados agitados, essa lição do mercado de deliveries, com os chineses chegando, é importante pra saber o que vem por aí.
E o que mais me chamou a atenção foi que entre nove características, a que menos importa é o tamanho da verba. Somente 15% dos entrevistados responderam que dinheiro conta. Só que entre os 10 anunciantes indicados como os melhores do mercado, 10 podem ser considerados empresas que investem bastante.
Isso é interessante: lembro que nas pesquisas que já vi sobre motivos de escolha de um produto ou serviço, em todas elas o preço nunca está em primeiro lugar entre os motivos para se escolher uma marca. Então dinheiro não conta? Não acho que seja essa a questão. O preço, ou a verba no caso das agências, é um fator de eliminação. Quando alguém resolve comprar um produto, primeiro olha pro bolso, depois encontra os motivos pelos quais vai escolher o produto A ou o produto B.
No caso das agências, talvez o perfil das entrevistadas já direcione para grandes contas. Mas quem tem mais verba normalmente consegue contratar melhores profissionais. O que se refletiria num briefing melhor, numa relação de respeito a prazos, até na preocupação em manter a agência satisfeita.
No estudo, as duas características mais indicadas foram relacionamento de longo prazo e remuneração adequada. São mais citadas do que criatividade, o que indica uma visão centrada na agência, e não nos resultados do anunciante. Apesar de trabalharem falando da importância do consumidor o tempo todo, quando têm que definir quais as boas características de bom cliente, a visão é voltada para a própria satisfação. Estranho isso…
Como alguém que já esteve nos dois lados da mesa, digo que todos os pontos podem ser aplicados para a escolha de agência também. Trocando uma ou outra palavra, como por exemplo, briefing por debriefing, que é o momento em que a agência explica o que entendeu do pedido original, as preocupações do cliente são iguais aos da agência. Repito muito para os meus alunos que não existe agência boa sem que o cliente também seja bom, que cada cliente tem a agência que merece.
Fazer comunicação é uma das tarefas mais coletivas que conheço. O criativo que sobe no palco para receber um prêmio, está ali porque o cliente apostou na ideia e investiu dinheiro para colocá-la na rua. Então, quando leio todas as características de uma boa agência, vejo as características de um bom casamento.
Como diz o ditado, quando um não quer, dois não brigam. Não existe um bom trabalho seu esforço de todos os envolvidos.
Não é que ela fosse abrir somente um dia ou uma semana. É uma loja, que nem Magazine Luiza, ou qualquer outra dessas de shopping. Mas Harry é um bruxo. E tudo que gira em torno dele se transforma, num passe de mágica.
Ser um dos primeiros a entrar na loja não tem valor nenhum, a não ser emocional. A blusa bordada com o nome de uma das Casas de Hogwarts, ou a cerveja de manteiga, que Harry toma na Pousada Três Vassouras, tudo vai estar lá na próxima semana. E na próxima. E na próxima. Mas fã é fã. E poder falar que foi um dos primeiros é o que chamamos de benefício de auto-expressão: mostra pro mundo quem você é de verdade. Serve pra objetos de luxo, pra automóveis, roupas e até pra experiências.
Harry Potter tem todo o potencial pra virar uma nova Disney. Pra mim, é uma franquia até mais forte do que Star Wars. Mas que corre o risco de envelhecer com quem leu os livros e viu os filmes. Ela é uma aventura das pessoas da Geração Z, que hoje estão nos seus 30 anos e com dinheiro no bolso pra gastar. Criar novidades, como novas atrações nos parques e essas lojas temáticas é tudo o que a Universal quer fazer para tirar mais leite da história. Falta lançar novos filmes, séries e desenhos animados, pra rejuvenescer a audiência.
O bichinho do marketing que vive dentro de mim vive repetindo que o futuro do varejo é a criação de experiência. E não tem gente melhor pra comprar experiência do que os fãs. Eu mesmo sou um exemplo típico de onde chega esse fanatismo. Adoro StarTrek e dentro da minha mochila, que viaja comigo pra tudo quanto é lado, vive uma revista do tema. Porque, eu não sei. Já li toda ela e agora está lá só pra me acalmar a ânsia de estar perto dos capitães e naves estelares da série.
No fundo, deveríamos fazer isso com nosso consumidor, esse ser insensível. Transformá-lo num fã, num defensor, num verdadeiro tarado, que fica horas e hora na fila pra ser um dos primeiros a ter o prazer de fazer negócios com a gente. Desse jeito, você não vende mais. É ele que lhe compra.